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terça-feira, 28 de agosto de 2018

A TEOLOGIA E AS SITUAÇÕES DE NOSSO CONTEXTO

Brasil: de teologia-reflexo para teologia-fonte

  Durante muito tempo o Brasil ficou dependente de uma teologia com raízes estrangeiras, isto se deve ao fato de que a cristianismo chegou até nosso país através de evangelistas estrangeiros, isto é absolutamente normal, pois é bem natural que os missionários levem um pouco de sua cultura aos povos evangelizados.
   Hoje vivemos uma época onde a teologia genuinamente nacional tem se apresentado com bastante vigor através de teólogos que tem se preocupado com uma aplicação mais regionalizada, mais produtiva e menos reprodutiva. Muito disso se deve ao fato de que a teologia nestes últimos tempos deixou de ser unicamente para formação de pastores e passou a ser também uma área livre para estudos de qualquer um que tenha o desejo de aprender mais sobre estes conceitos.

O desafio do pluralismo

  A teologia, ao contrário do que o senso comum afirma, não se apresenta como uma verdade imutável ao longo dos anos, até porque o que o homem acredita saber sobre teologia, acaba dependendo bastante do contexto histórico do período vivido. A teologia veio sendo influenciada por fatores religiosos oriundos das mais diversas religiões, bem como dos fatores sociais a que o homem ficou submetido em cada período da história e também devido aos mais diversos pontos de vista de renomados filósofos e teólogos. 
   
O desafio do Ecumenismo

 O ecumenismo vem tentando aproximar as religiões em uma tentativa de universalizar a fé, sabemos que esta é uma tarefa praticamente impossível de se realizar, mas precisamos admitir que as religiões apesar de serem diferentes em seus modos de serem exercidas, em seus dogmas e suas figuras centrais, há um objetivo universal entre todas elas levar o indivíduo a ser alguém melhor. Assim é preciso sim que haja uma defesa de cada um por seu modo de ser religioso, mas há também a necessidade de que religião não seja um motivo para violência ou má convivência entre as pessoas.   A partir do momento em que a teologia se torna um motivo de separação entre as pessoas, ela deixa de ser um conhecimento crítico e passa a ser um fanatismo, que tem se mostrado ser extremamente prejudicial para a sociedade.

O desafio do diálogo inter-religioso
Ter religiões diferentes não significa nos tornarmos seres de espécies diferentes, que não se entendem, não convivem e por vezes até mesmo se destroem. É necessário haver um diálogo entre os religiosos e entre as religiões, pois as bases da sociedade só poderão ser mantidas se houver entre os religiosos uma política de boa vizinhança, ou seja, por mais que eu discorde de seus conceitos teológicos, não significa que devamos ser inimigos.

O desafio da existência de muitos “lugares teológicos”

 Tem se visto muito nos dias atuais teologias que são feitas de baixo para cima, ou seja, tem havido uma preocupação por parte dos líderes de denominações em “agradar ao público” com o objetivo de se angariar maior número de membros, há nesta linha de pensamento um perigo muito grande de se esquecer o que Deus que para o homem e ao invés disso passar a ter o que o homem quer para ser seu Deus.
 A teologia é sim contextual, mas Deus é único e inequívoco, estes lugares teológicos que nada mais são que pequenos universos a serem enfatizados em uma visão teológica não devem ser ignorados, no entanto não devem também serem usados como espaços únicos para o desenvolver teológico.

O ESTATUTO CIENTÍFICO DA TEOLOGIA

Relação entre Teologia e as demais ciências

  Durante a história da evolução científica da humanidade, houve um tempo onde a Teologia assumiu uma posição de hegemonia, uma posição não só de destaque, mas também exercia grande poder sobre as demais ciências deste período. Este período chamado essencialmente de era cristã tinha a Teologia como referência absoluta para aas demais ciências, isto porque todo o conhecimento “revelado” por Deus ao homem não poderia em hipótese alguma ser questionado pelas outras ciências, desta forma a mãe de todas as ciências era a Teologia.
Com o advento da ciência moderna, que nada mais é que uma ciência pautada no empirismo, ou seja, só é ciência genuína aquela que pode ser experimentalmente provada em uma relação bem definida de causa e efeito. Neste período a Teologia perdeu totalmente o posto de principal ciência e enquanto cada ciência passou a ter autonomia em suas áreas de conhecimento a Teologia chegou a ter seu título de ciência fortemente questionado.
Finalmente em tempos mais recentes, onde a Teologia começou a se preocupar com embasamentos científicos para provar sua veracidade, em especial no caso do cristianismo a confrontação dos textos bíblicos com fatores históricos, geográficos, bem como conhecimentos paleontológicos, arqueológicos e sociológicos tornou agora a teologia aceita no campo da área de conhecimento humano.

Teologia sendo considerada ciência

  A teologia só pode ser considerada uma ciência se sua linha de estudos estiver em consonância com a interpretação das situações e figuras apresentadas de forma que este simbolismo possa contribuir para um melhor entendimento por parte do homem daquilo que é a mensagem de Deus para sua vida. A bíblia não foi escrita com o objetivo de ser um livro de conhecimentos científicos e nem tem a pretensão de ser irrefutável cientificamente.
   Deste modo fica claro que o conhecimento que a aquilo que a humanidade pode apreender através da teologia nunca será exato ou experimentalmente comprovado, mas sempre será uma experiência de sentidos, propiciada pela hermenêutica de todos os símbolos da fé cristã.

OS NÍVEIS DO DISCURSO TEOLÓGICO

 Como em qualquer área do conhecimento, a teologia possui áreas de aplicação em vários níveis, conforme a profundidade do conhecimento apreendido. Não podemos nos deixar levar por uma crença do senso comum que classifica estes níveis por ordem de superioridade ou importância, pois de uma forma prática há uma correlação entre estes níveis e também cada nível é importante para a apreensão do conhecimento teológico para uma parte específica da população de forma geral.

Nível popular do discurso teológico 

  Se concentra na população considerada leiga, do ponto de vista acadêmico, e que também não tem a responsabilidade de transferir o conhecimento teológico para grandes públicos. Na maioria das vezes o conhecimento é adquirido por experiências do cotidiano, através da leitura da bíblia e também de palestras ou pregações assistidas. Apresenta uma linguagem simples de fácil entendimento, abrangendo também a grade maioria da população ligada de uma forma ou de outra ao conhecimento teológico.
Não tem pretensões e nem metodologias científicas de nenhuma espécie, visa compartilhar o conhecimento adquirido através de experiências vividas com Deus, com a bíblia e com outras pessoas.

Nível pastoral do discurso teológico 

  Se concentra em uma população por vezes leiga do ponto de vista acadêmico, mas também apresenta pessoas com uma formação teológica, são pessoas que sempre possuem a responsabilidade de compartilhar o conhecimento teológico com um número expressivo de pessoas, são geralmente líderes de um grupo de pessoas. Apresentando ou não uma formação acadêmica de teologia estas pessoas fazem um estudo mais aprofundado da teologia visto que, em uma posição de liderança torna-se necessário um conhecimento mais amplo que possa levar às pessoas a terem uma experiência de conhecimento que amplie seus horizontes, indo além das limitações que a teologia popular apresenta.
De cunho orientativo, tem a pretensão de levar os puramente leigos a terem uma visão mais hermenêutica da teologia através de palestras, pregações e aconselhamentos.

Nível acadêmico do discurso teológico 

  Se concentra em uma população bem reduzida e muito específica, são estudiosos profissionais da teologia. São pessoas que produzem literaturas como conceitos e definições pautadas em metodologias científicas, tendo como apoio uma visão puramente acadêmica do conhecimento.
Tem como principal objetivo ser um complemento formal do conhecimento na área teológica. Somente pode ser adquirido por meio de uma educação formal e geralmente não se limita a um curso superior, indo bem mais além a nível de especializações, mestrados e doutorados.

Solidarizando os níveis do discurso teológico

 É importante salientarmos que que os diferentes níveis do discurso teológico não são concorrentes entre si, nem mesmo se apresentam melhores ou mais importantes uns que os outros, mas muito pelo contrário eles se completam solidariamente e juntos tem o poder de abranger todas as classes sociais, econômicas e intelectuais da população.
 Por isso cada um dos níveis deve ser considerado não como “dispositivos” diferentes com finalidades próprias, mas sim sendo partes integrantes de um “dispositivo” maior cuja finalidade única é levar o conhecimento teológico a todos de forma indistinta.

DEFININDO TEOLOGIA

 Ao contrário do que a maioria acredita ser a definição de Teologia, esta definição não tem nada de trivial, pois o grande problema em se definir Teologia é que esta veio tomando novos formatos no decorrer da história. Definir significa exatamente fechar um conceito que possa determinar toda abrangência e essência do que se está definindo e é exatamente aí que se encontra um outro dos grandes problemas na definição de Teologia, a final seria muita pretensão de nossa parte achar que com apenas uma palavra atribuída a um ramo de estudo poderíamos explicar Deus.
Falar de Deus automaticamente nos remete à bíblia que é genuinamente a sua palavra e quando tentamos buscar na bíblia esta definição do que é “Deus” não conseguimos avançar muito, pois na bíblia Deus claramente se apresenta como “Eu sou” (na passagem em que Moisés deveria falar a Faraó quem é o Deus que exige que seu povo saia do Egito para o adorar) o que nos mostra claramente que Deus é o que é não precisando de maiores explicações, outro detalhe é que especialmente no velho testamento Deus se apresenta não como um conceito ou algo a se definir, mas sim Deus é visto como um acontecimento e também como alguém que é fonte, ou motivo de acontecimentos.
 A bíblia apresenta Deus como um criador que ama a sua criação e move situações e circunstancias para que a humanidade deixe seus erros de lado de forma a poderem viver em comunhão entre si. Estas experiências bibliocêntricas não se apegam a uma visão analítica de Deus, muito menos uma explicação filosófica ou humanista de Deus, nós cristãos, por exemplo, geralmente vivemos primeiro uma experiência de vida com Deus e depois nos interessamos por estudar de forma mais analítica o próprio Deus e a bíblia.
 É importante entendermos então que a teologia nasce de uma experiência espiritual, que tem base na comunhão com Deus, na oração e na adoração à Deus. Apesar das grandes mudanças em seu contexto fundamental, tais como o estudo com foco acadêmico e não mais, necessariamente pastoral, bem como uma abrangência extremamente cristocêntrica, a teologia conserva sua função mais primitiva, fazer o homem se aproximar mais de Deus através da análise dos seus atos em prol do homem e especialmente através do melhor entendimento da bíblia.
 Platão propõe um conceito teológico interessante que apresenta três lições importantes:
1 – A teologia é um conhecimento adquirido através do senso crítico, apresenta a finalidade de questionar e buscar respostas em todo o tipo de manifestação religiosa.
2 – Há na teologia uma função pedagógica, ou seja, uma vertente formadora de caráter aplicada ao homem que o leva a um aprimoramento de sua vida espiritual bem como um aperfeiçoamento de sua ligação com Deus.
3 – Por mais estranho que aparenta ser, a teologia apresenta uma função política, que tem como principal objetivo adequar a vida do homem a melhores condições de convivência como cidadão dentro da sociedade.
 Claro que para nós a teologia é muito mais que um método ou uma forma de análise ou mesmo um ramo acadêmico, para nós o conhecimento do mundo teológico nos leva a ter uma visão menos ingênua e nos acrescenta uma visão mais verdadeira de quem é Deus é qual é o seu propósito na vida do homem.

UMA REFLEXÃO SOBRE O CRISTIANISMO COMTEMPORÂNEO


 Durante todo o processo de amadurecimento do cristianismo, desde a igreja primitiva, observamos que não é possível separar sua história da história da humanidade e vice-versa, mas é fato que os acontecimentos sociais, políticos e econômicos mudaram o cristianismo original, por uma questão de sobrevivência. Não havia como o cristianismo se manter inflexível diante de todos os acontecimentos destes quase dois milênios, a mudança radical, mas que também foi processual do modo de vida do homem, bem como o alcance de sua liberdade de ler e interpretar a bíblia e os ensinamentos de Cristo foi essencial para que houvessem grandes mudanças e dissensões dentro do movimento cristão, mudanças estas que não considero maléficas, mas bem pelo contrário considero justamente fatos essenciais para o amadurecimento de uma religião, que na minha opinião é a mais importante do mundo, que mudou a história de um modo permanente, pois esteve envolvida de forma muito intensa no núcleo dos mais marcantes e decisivos fatos históricos da humanidade.
 Agora o cristianismo em todas as suas vertentes, linhas de pensamentos e diferentes placas de igreja continua relevante dentro da sociedade mundial, no entanto no mundo extremamente moderno e veloz que vivemos, temos a grande responsabilidade, como teólogos, de mostrar um evangelho prático, que procura fazer algo real pelas pessoas, como Jesus sempre o fez, um evangelho abstrato, focado no porvir e na certeza de uma eternidade dos salvos, um evangelho que mantém os ensinamentos originais de Cristo, pois é claro que tem que haver uma adaptação ao ambiente social e cultural que vivemos, no entanto vemos com muita tristeza igrejas que por uma questão estatística e numérica de membros, dizem somente o que é agradável e prometem uma absoluta prosperidade, sem nem mesmo se preocupar com a vontade de Deus. Vemos igrejas cheias de pessoas que não tem compromisso com Cristo ou nem mesmo tiveram uma experiência de salvação genuína, mas são cambistas de favores de Deus.
  O cristianismo contemporâneo, a meu ver, precisa tratar questões importantes da vida secular das pessoas, mas não podemos esquecer que a ideia fundamental sempre foi e sempre será a salvação do homem, salvação esta que quando verdadeira muda as concepções errôneas impostas por uma sociedade corrupta e fria, transforma o coração de pedra que não dá valor à vida, em especial à dos outros, em um coração de carne capaz de amar e respeitar a si próprio e aos outros. Vejo que o maior desafio que enfrentamos nos dias de hoje é alcançar o ensino cristão original, através de um testemunho de vida, através de uma experiência vivida, não tendo os olhos fechados para as análises críticas, respeitando o direito de cada um em discordar ou pensar de modo diferente, desde que não se venha ferir os ensinamentos bíblicos, para que a mensagem de Cristo seja anunciada e levada a todos sem desvios ou tendências que promovam algum benefício próprio para alguém ou para algum grupo.